Artigo: Liderança feminina no Brasil

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Liderança feminina no Brasil: avanços e desafios

Uma parte importante do meu trabalho na Mulheres no Comando, assim como em outros espaços que ocupo, é incentivar a liderança feminina no Brasil. Este não é um trabalho fácil, mas me permite viver fazendo a diferença que desejo ver no mundo. 

Decidi focar a minha jornada em alavancar carreiras de mulheres não só porque acredito na mudança social que isso causa em toda a sociedade, mas também porque há muito tempo vejo como a presença de mulheres em cargos de liderança mudam a realidade de empresas mundo afora.

Dito isso, recentemente a HSM Management lançou o estudo Panoramas Mulheres 2023 realizado pela Talenses Group, em parceria com a Insper, que traz diversos insights sobre a liderança feminina no Brasil. Vamos falar sobre os avanços e desafios das mulheres no mercado de trabalho brasileiro?

Onde estão as mulheres líderes?

Atualmente, as mulheres ocupam 38% dos cargos de liderança dentro das empresas brasileiras, conforme pesquisa realizada pela Grant Thornton em 2022. Mas o desafio da ascensão feminina no mercado de trabalho continua, especialmente para posições de alta liderança e C-levels. 

Os dados da pesquisa divulgada pela HSM mostram que 7% das empresas de capital aberto contam com presidências ocupadas por mulheres, enquanto nas empresas de capital fechado, esse número sobe para 20%.

Conforme pesquisa divulgada na revista Forbes, entre os setores com mais equidade de gênero, considerando todos os níveis estão: varejo, farmacêutica, cosméticos e bens de consumo.

Outro ponto importante é que nas empresas familiares, 25% dos cargos de presidência são ocupados por mulheres, já nas empresas de administração profissional, o índice cai para 14%.

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Mobilidade interna como estratégia para liderança feminina

Atualmente, ninguém espera passar 20 anos da vida em uma mesma posição, dentro de uma empresa, para então assumir a cadeira da presidência. Cada vez mais, o conhecimento do negócio como um todo é fundamental para uma pessoa que deseja conquistar uma posição C-level.

A flexibilidade da carreira pode ser uma grande aliada das mulheres, permitindo a mobilidade para uma posição de liderança dentro da organização, mesmo que em uma nova área. 

Para as mulheres, a mobilidade interna garante o desenvolvimento de novas habilidades, know how de cada área e expansão da rede profissional. Já para as empresas, promove a diversidade e inclusão, retem talentos e garante uma mudança da cultura organizacional.

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Efeito “Presidenta”

A pesquisa Panorama Mulheres 2023 também levanta um ponto importante: as empresas com mulheres na presidência tendem a ter mais mulheres em posições de liderança e alta liderança como um todo, o chamado “efeito ‘presidenta’”. 

Os dados da pesquisa indicam que quando a empresa é presidida por uma mulher, há 2x mais chances de que existam mulheres também em posição de vice-presidência, C-level e conselhos. Neste último, a participação de mulheres é de 43%, enquanto nas presidências masculinas o número de mulheres é, em média, 16%.

Esses números reforçam o que diz a pesquisa Liderança Feminina na Agenda Sustentável, da FGV: as lideranças femininas estão mais comprometidas com a diversidade, equidade de gênero nos negócios e com a pauta ESG como um todo.

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Mais conexão, menos competição

A ideia de que mulheres rivalizam umas com as outras está caindo por terra. As mulheres estão, sim, dispostas a se conectar e ajudar outras mulheres a se desenvolverem. Isso se mostra em diferentes formas, como nos números citados acima, ou na, cada vez maior, oferta de mentorias de mulher para mulher. 

Por outro lado, muitas empresas reclamam da dificuldade de encontrar talentos diversos, especialmente para posições de maior grau hierárquico dentro das organizações, mas iniciativas como a Mulheres no Comando, garantem que mulheres líderes façam conexões com outras potências femininas e transformem a realidade de empresas inteiras. 

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Representatividade como potencializador

Além de, possivelmente, estarem mais abertas para se conectar e contratar outras mulheres, a presença feminina em posições de alta liderança também garante algo ainda mais importante para mulheres, especialmente as que estão em início de carreira: a representatividade. 

Além disso, de maneira geral, empresas com mulheres na alta gestão tendem a ser ambientes organizacionais mais equânimes e com melhores oportunidades para ascensão feminina. 

Mulheres e interseccionalidade

A pesquisa Panorama Mulheres 2023 é a primeira versão do estudo que também avalia a disposição das organizações para trabalhar a contratação e o desenvolvimento de pessoas de outros grupos com marcadores sociais. 

O resultado da pesquisa mostra que as ações de diversidade e inclusão das empresas estão olhando com mais atenção para dois públicos específicos: mulheres negras (cerca de 80%) e o de mulheres com deficiências (com cerca de 60%). 

O estudo cita ainda mulheres jovens, mulheres mães, mulheres acima de 50 anos e indígenas, em proporções menores, mas não menciona a comunidade LGBTI+. 

Como avançar com a pauta da equidade de gênero

Mesmo com os avanços dos últimos anos, a equidade de gênero ainda é um tema delicado para muitas empresas. Para avançar com a pauta e contribuir com dados ainda mais equânimes na próxima pesquisa, algumas ações podem ser tomadas:

  • Vincule a diversidade, inclusão e equidade nas estratégias de negócio;
  • Desenvolva um posicionamento, começando pela alta liderança;
  • Faça o diagnóstico da organização, como estamos?;
  • Meça não só a presença feminina, mas de outros marcadores sociais;
  • Identifique gaps e desenvolva oportunidades, especialmente de liderança;
  • Estabeleça metas a serem alcançadas, considerando também interseccionalidades;
  • Crie e divulgue materiais de educação sobre diversidade e inclusão;
  • Incentive ($) o desenvolvimento de pessoas diversas da organização;
  • Crie comitês, grupos de afinidades e canais de denúncia, caso não haja;
  • Lembre-se de documentar o processo, os erros e acertos.

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O papel da liderança antimachista 

Ser uma liderança antimachista é se comprometer com a igualdade de gênero, e ter ações com intencionalidade. Para se tornar uma liderança antimachista, o primeiro passo é a consciência e a autoeducação em relação às formas que o machismo se apresenta no dia a dia das mulheres. 

Com isso, homens e mulheres antimachistas em posição de liderança devem desafiar as normas e estereótipos, além de valorizar a diversidade dentro da própria equipe. A partir desse momento, é hora de promover oportunidades iguais e igualdade salarial para a equipe. 

Além disso, uma liderança antimachista se posiciona ao lado das mulheres no dia a dia, não só de forma passiva, mas ativamente, combatendo discriminações de gênero, situações de assédio e ajudando a desenvolver lideranças femininas. 

A liderança feminina, assim como de outros marcadores sociais, servem como parâmetro para avaliar o comprometimento das organizações com a diversidade, inclusão e equidade. 

Quando as lideranças femininas ganham destaque, elas apontam oportunidades iguais de crescimento e progressão na carreira, demonstrando que a organização está comprometida em promover a igualdade de gênero e oferecer oportunidades justas para todas as pessoas. 

Por outro lado, a presença de lideranças femininas também tem um impacto significativo na cultura organizacional. Mulheres líderes têm mais tendência a valorizar as diferenças e incentivar um trabalho mais colaborativo, garantindo mais inovação.

Com avanços e desafios, seguimos ajudando a desenvolver a liderança feminina no Brasil. Se você está precisando de ajuda para desenvolver lideranças femininas na sua empresa, pode contar comigo e com a Mulheres no Comando! 

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