Setembro amarelo: por que as mulheres adoecem?

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Setembro Amarelo: por que as mulheres adoecem?

Setembro amarelo é uma campanha potente e importante para trazer à tona os desafios da saúde mental para todas as pessoas, em especial, para mulheres e outras pessoas diversas. Durante toda a minha carreira percebi que, como mulher, enfrentei uma série de desafios únicos que me afetaram, emocional e até mesmo fisicamente. 

Uma pesquisa realizada na Universidade de Oxford, no Reino Unido, mostrou que as mulheres têm 40% mais chances de sofrer algum transtorno mental do que os homens. O estudo analisou 12 pesquisas epidemiológicas de larga escala realizadas na Europa, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia.

Por isso, hoje quero compartilhar minha experiência e explorar uma questão que há muito tempo me angustia: por que as mulheres estão mais propensas a enfrentar desafios na sua saúde mental, inclusive e talvez especialmente no ambiente de trabalho? Este artigo é uma tentativa de dar pistas de porquê isso acontece.

Leia também: a importância de espaços seguros para as mulheres

Impactos da desigualdade de gênero na saúde mental das mulheres

Em primeiro lugar, se existem diferenças significativas entre o número de adoecimentos de homens e mulheres, significa que algo em ser mulher e ocupar esse espaço na sociedade torna o dia a dia mais difícil, especialmente no âmbito emocional. É como dizem: não temos um minuto de paz. 

A desigualdade de gênero afeta as mulheres e demais identidades femininas em diversas, se não todas, as esferas da vida: trabalho, família, educação, lazer. Todos esses espaços, em alguma medida, podem gerar ou permitir violências de gênero.

Ouça o podcast: juntos pela mudança: Estado, setor privado e equidade de gênero

Especialmente no ambiente de trabalho, as mulheres passam por provações diariamente. Para ilustrar isso, trago 10 situação em que a saúde mental das mulheres é colocada à prova:

  1. As mulheres muitas vezes enfrentam pressões adicionais para provar seu valor e competência no trabalho devido a estereótipos de gênero como sensibilidade ou a falácia da mulher multitarefa. Essa pressão pode levar ao estresse crônico e à ansiedade;
  2. A discriminação de gênero e o assédio sexual ou moral são formas graves de desigualdade de gênero no trabalho, que podem causar estresse, ansiedade, depressão e trauma psicológico;
  3. A disparidade salarial de gênero pode criar estresse financeiro e afetar negativamente a autoestima e a saúde mental das mulheres;
  4. A escassez de oportunidades de liderança para as mulheres, especialmente em algumas áreas, também pode causar sentimentos de desvalorização, desmotivação e desesperança, afetando a autoestima e confiança;
  5. As mulheres, muitas vezes, enfrentam uma carga mental desproporcional devido à duplas e triplas jornadas, equilibrando responsabilidades profissionais, domésticas e familiares. As mulheres brasileiras dedicaram 9,6 horas a mais do que os homens por semana a afazeres domésticos ou cuidados de pessoas, isso pode levar à exaustão e ao esgotamento;
  6. Mulheres em ambientes de trabalho predominantemente masculinos podem se sentir isoladas, levando-as a um sentimento de solidão e falta de apoio social;
  7. A maternidade também pode ser uma época particularmente desafiadora para mulheres trabalhadoras, com a falta de apoio adequado, discriminação e dificuldades em equilibrar a carreira e a vida familiar;
  8. Por conta de experiências traumáticas ou devido ao medo de retaliação e estigmatização, as mulheres podem ter dificuldade em expressar suas necessidades de saúde mental no local de trabalho, o que pode agravar os problemas;
  9. A falta de acesso a treinamentos, mentorias e outras oportunidades de desenvolvimento profissional pode limitar as perspectivas de carreira das mulheres, causando frustração e desânimo;
  10. A combinação de pressão no trabalho, falta de reconhecimento e responsabilidades adicionais em casa pode aumentar o risco de Burnout e exaustão. Uma pesquisa recente mostrou que 24,64% das mulheres se sentem angustiadas e ansiosas com o volume de trabalho. Entre os homens, o número cai para 15,96%.

Definitivamente, a saúde mental não deve ser tema apenas no mês de setembro, mas que tal aproveitarmos essa data para engajar e construir mudanças a longo prazo? 

Para além do Setembro Amarelo: políticas e mudanças necessárias

Entendo que tanto a equidade de gênero quanto a saúde mental são problemas complexos que precisam ser tratados de forma global, incluindo o Estado, mas nesse artigo, quero falar especificamente sobre algumas ações que considero importantes de serem desenvolvidas dentro das empresas: 

Conscientização sobre saúde mental

As questões de saúde mental ainda são um tabu para boa parte da sociedade e isso também se apresenta dentro das empresas. Realizar programas de conscientização e treinamento sobre saúde mental no local de trabalho pode ajudar a reduzir o estigma em torno dessas questões e incentivar a busca por ajuda quando necessário.

Criação de um ambiente de trabalho livre de discriminação

Toda empresa deve ter o compromisso de promover um ambiente de trabalho inclusivo e diverso, livre de discriminação por gênero, raça, classe social ou qualquer tipo de preconceito e assédio. Construir um ambiente livre de discriminação é difícil, mas só assim é possível ter um espaço psicologicamente seguro para as mulheres.

Flexibilidade no trabalho

Para muitas pessoas, em especial as mulheres, horários flexíveis de trabalho, opções de trabalho remoto e licenças familiares flexíveis ajudam a equilibrar as responsabilidades profissionais e familiares, reduzindo o estresse, a ansiedade e o sentimento de estar sempre em falta.

Apoio à parentalidade

Em uma sociedade sustentável, é papel das organizações oferecer programas de apoio à maternidade e parentalidades em geral, como licença remunerada, creches no local ou subsídios para creches, para ajudar as mulheres a conciliar a maternidade com a carreira.

Programas de bem-estar e acesso a recursos de saúde mental

Empresas podem oferecer acesso a serviços de saúde mental, como sessões de aconselhamento ou terapia, e garantir que as pessoas colaboradoras saibam como acessar esses recursos de forma confidencial. 

Implementar programas de bem-estar no local de trabalho também é uma opção para mitigar os riscos de problemas de saúde mental, isso pode incluir atividades de relaxamento, exercícios físicos, programas e palestras sobre saúde mental.

Auxílio no desenvolvimento de carreira 

Mulheres e outras pessoas diversas, muitas vezes, acabam se sentindo estagnadas na carreira por conta de uma falta de desenvolvimento pensada para os públicos diversos e isso pode, sim, afetar a saúde mental de forma prolongada. 

Leia também: como deve ser seu programa de mentoria para mulheres

Estabelecer programas de mentoria e desenvolvimento de carreira que ajudem as mulheres a progredir em suas carreiras e a lidar com desafios específicos que possam enfrentar no ambiente de trabalho é uma forma de garantir a saúde e permanência de talentos diversos nas companhias. 

Políticas de licença menstrual

Algumas empresas estão implementando políticas de licença menstrual, reconhecendo as dificuldades que algumas pessoas que menstruam enfrentam durante o ciclo. Ações como essa também podem ajudar a garantir uma sensação de bem-estar em relação ao trabalho, além de permitir uma produtividade organizada. 

Ouça o podcast: vida sustentável, a conexão entre menstruação e produtividade

Equidade Salarial

Organizações que pagam de forma diferente as pessoas em função do gênero não estão apenas corrompendo uma relação de confiança com as pessoas colaboradoras, como indo contra a Lei da Igualdade Salarial. Promover a igualdade salarial permite a criação de um ambiente de trabalho mais equitativo e, por isso, contribui para a saúde mental das funcionárias.

Sempre que possível, volto nesses pontos que considero essenciais para que possamos avançar e começar a pensar em outros cenários. Conforme a ONU, atualmente, a estimativa é que serão necessários mais 300 anos para alcançarmos a igualdade de gênero no mundo.

Enquanto isso, haja resiliência para que as mulheres e demais pessoas diversas se mantenham firmes. O que posso dizer hoje é que estamos juntas e assim seguiremos, até que não haja mais desigualdade entre nós!

Se você está passando por um momento difícil, lembre-se que não está sozinha! Procure ajuda o mais rápido possível, pois precisamos de você forte e junto com a gente nessa batalha! 😉

Ouça o podcast Diálogos de Equidade

No Spotify ou no YouTube, você pode maratonar os primeiros 10 episódios do podcast Diálogos de Equidade. Nessa primeira temporada, eu conversei com muita gente competente e engajada com a equidade de gênero no mercado de trabalho e a saúde mental das mulheres aparece em cada um deles. 

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