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Preconceito de gênero no trabalho: como se manifesta e como acabar com ele

O preconceito de gênero no trabalho é um problema de todas as pessoas, afinal, para combater a discriminação no ambiente corporativo é necessário que haja consciência e comprometimento geral da equipe.  

Por enquanto, as notícias não são muito boas. Conforme a ONU, atualmente, não há igualdade de gênero em nenhum país do mundo. Somente no ambiente de trabalho, segundo o Global Gender Gap Report, vai demorar mais de 100 anos para que as mulheres consigam estar em condições de igualdade com os homens.

No Brasil, sabemos que as mulheres têm menos oportunidades que os homens, mas não é só a falta de oportunidades que assombra as carreiras femininas. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva 76% das mulheres já sofreram algum tipo de violência de gênero no ambiente de trabalho. 

Nessa pesquisa, 12% das mulheres disseram já terem sido vítimas de agressão sexual, assédio ou estupro no trabalho, 40% afirmaram terem sido xingadas ou tratadas com agressividade. Mas nem todas as discriminações são tão explícitas, por isso, as questões de gênero precisam ser tratadas com muita atenção e seriedade.

Principais aparições do preconceito de gênero no trabalho

O preconceito de gênero pode aparecer de diversas maneiras no ambiente de trabalho, desde uma desvalorização sistemática das mulheres da equipe, até casos mais graves de assédio moral ou sexual. Veja algumas das principais formas do preconceito de gênero no trabalho:

Desigualdade salarial

Uma das principais pautas relacionadas ao preconceito de gênero no trabalho é desigualdade salarial, uma prática naturalizada no mercado de trabalho brasileiro até agora. 

Os dados do censo brasileiro de 2010 mostraram que as mulheres ganhavam 35% menos que os homens, mesmo em profissões, cargos e condições de trabalho muito parecidas ou iguais. Mundialmente essa diferença é de 22%.

Mas a lei da igualdade salarial, apresentada pela Ministra Simone Tebet esse ano, deve causar alterações no cenário brasileiro. Com a aprovação da lei, empresas com mais de 20 funcionários deverão publicar relatórios salariais e a fiscalização ficará por conta do Ministério do Trabalho.

Além disso, a multa para empresas que praticam a desigualdade salarial deve aumentar, passando a ser de 10 vezes o valor do maior salário pago na empresa.

Leia também: desigualdade salarial, por que os homens ainda ganham mais que as mulheres? 

Valorização dos estereótipos de gênero

Os estereótipos de gênero são papéis atribuídos a homens e a mulheres, no caso das mulheres eles estão ligados, majoritariamente, à delicadeza, submissão e prestação de serviço não pago. 

Quando surge no ambiente de trabalho, a valorização desses estereótipos de gênero podem justificar a desvalorização das mulheres, impedindo-as de subir em suas carreiras, afinal, as características femininas são relacionadas facilmente à fraqueza.

Somado à falta de representatividade feminina em cargos de liderança, os estereótipos de gênero podem ser um prato cheio para a propagação dos preconceitos de gênero no ambiente de trabalho. 

Leia também: barreiras para a liderança feminina, como superá-las

Humilhações, silenciamentos ou elogios desagradáveis

Muitas vezes o preconceito de gênero no trabalho é visto como uma “brincadeira fora de hora”, afinal, a rede de relações no trabalho é complexa, envolve afetos e hierarquias que podem modificar a percepção das pessoas sobre determinados eventos.

Para começar a pensar sobre isso, você já deve ter entrado em contato com os termos Gaslighting (manipulação), Manterrupting (interrupção) e Bropriating (apropriação de ideia). Esses termos foram criados para botar luz sobre situações cotidianas que as mulheres enfrentam. 

Elogios fora de contexto, humilhações e silenciamentos são situações que acontecem no dia a dia das mulheres dentro de empresas e que precisam começar a ser vistas, tratadas como preconceito de gênero e coibidas. 

Objetificação e assédio sexual

39% das mulheres participantes da pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão dizem já ter sido elogiadas de forma desagradável por homens no ambiente de trabalho ou terem recebido convites com insinuações constrangedoras. Esse tipo de situação não vê idade, classe social ou localidade. No Reino Unido, por exemplo, 1 em cada 10 mulheres já abandonou um trabalho por conta de assédio. 

Podemos considerar que algumas profissões deixam as mulheres mais vulneráveis, como serviços domésticos ou profissões que envolvem o entretenimento, como trabalho em baladas e afins, mas conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres estão mais sujeitas ao assédio em todas as carreiras.

Isso mostra que o assédio não é apenas uma questão isolada, mas que permeia toda a sociedade e precisa ser tratado de forma estrutural e individual em busca de um mundo melhor para todas as pessoas. 

Dicas para evitar preconceito de gênero na sua empresa

Mesmo contando com uma equipe de recrutamento e seleção excelente e uma cultura organizacional forte, toda empresa corre o risco de acabar tendo profissionais desalinhados às pautas de equidade dentro do time.

Por isso, algumas ações precisam estar estruturadas para lidar com problemas relacionados ao preconceito de gênero, raça, classe, orientação sexual e demais marcadores sociais que possam surgir. 

Tenha políticas bem estruturadas

O primeiro passo é construir políticas rígidas de combate ao assédio e as discriminações e revisá-las periodicamente, considerando as mudanças sociais e organizacionais. 

Dentro das empresas, o principal documento que regulamenta a forma como as pessoas devem se portar dentro da companhia e em nome dela é o código de ética e conduta. Mas para que tenha resultado, esse código não pode ficar na gaveta. 

No final do ano passado, o combate ao assédio passou a ser oficialmente entendido como questão de saúde do trabalho. A Lei 14.457/2022 define que a manutenção de um ambiente seguro, especialmente para mulheres, é responsabilidade também da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes).

Mantenha um canal de ouvidoria

Quando uma colaboradora ou colaborador se sente acuado ou desrespeitado, a quem essa pessoa pode e deve recorrer? Muitas vezes ouvimos queixas como “Eu vou reclamar do meu chefe pra quem? Pro meu chefe?”. Em situações de assédio direto, mas não só, um canal de ouvidoria é a melhor forma de garantir que o assunto seja tratado com seriedade. 

Muitas vezes o canal de ouvidoria fica sendo responsabilidade da equipe de RH da empresa, mas algumas organizações já estão adotando uma prática ainda mais segura para a pessoa denunciadora, que é a realização de ouvidoria anônima e independente da empresa. No Brasil, 96% das pessoas consideram essa uma prática eficaz. 

Leia também: a importância de espaços seguros para as mulheres

Estruture um Comitê de Gênero 

Quer manter a pauta de gênero viva e pulsante dentro da empresa? Nada melhor que criar um Comitê de Gênero para as colaboradoras. Em um espaço como esse, é possível não só verificar as insatisfações e desafios das mulheres, como compreender a potencialidade de cada uma delas. 

O Comitê de gênero é um espaço seguro para tratar de temas sensíveis, por isso, mantê-lo funcionando e aberto a todas as mulheres pode ser uma boa forma de prever e incidir em situações de preconceito de gênero antes que elas tomem proporções maiores. 

Leia também: como criar comitês de gênero nas empresas

Fortifique uma cultura organizacional inclusiva

Uma cultura organizacional inclusiva tende a garantir mais segurança e tranquilidade para todas as pessoas da equipe, em especial para as pessoas pertencentes a algum grupo minorizado, como é o caso das mulheres. 

Para fortalecer uma cultura inclusiva, é necessário investir na educação de todas as pessoas colaboradoras para a valorização das diferenças. Uma boa estratégia é incluir informações relacionadas à diversidade e inclusão logo no onboarding de novos funcionários. 

Nos processos de recrutamento e seleção, estratégias como avaliação do Fit Cultural e a criação de vagas afirmativas são duas das ações mais populares em empresas comprometidas com a criação de uma cultura inclusiva. 

Mas é importante lembrar que apesar de o setor de RH ser uma espécie de guardião dos valores da empresa, a cultura organizacional é uma responsabilidade de todas as pessoas. 

Leia também: diversidade e inclusão de janeiro a janeiro 

Você sofreu um assédio no trabalho? Denuncie. 

Uma situação de assédio ou preconceito de gênero no trabalho pode causar prejuízos para a vida toda. Por isso, nenhuma mulher deve se calar frente às discriminações e violências. 

O primeiro passo em uma situação como essa é buscar pelo canal de ouvidoria oficial da empresa ou do sindicato responsável. Quando o problema não é solucionado dessa maneira, deve ser procurado o Ministério Público do Trabalho

Assédio sexual ou moral, por outro lado, são considerados crime e podem ser denunciados diretamente na Justiça do Trabalho. Só em 2021, foram registrados 52 mil casos de assédio moral no Brasil. 

Como falei no início deste artigo: o preconceito de gênero no trabalho é um problema de todas as pessoas e ele só será superado com a conscientização de todos. Na sua empresa, você pode colaborar para o avanço desse debate através da educação das pessoas colaboradoras e do combate ao assédio internamente. 

Junto com a Mulheres no Comando, posso te ajudar a transformar a sua empresa em uma aliada das mulheres e de todas as pessoas diversas. Vamos conversar?

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