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Porquê a representatividade negra importa tanto!

Há pouco mais de um ano, ingressei na Mulheres no Comando e mesmo sempre me reconhecendo como uma mulher negra, nunca havia olhado pra trás e refletido sobre tudo o que já havia passado, nem entendido o porquê a representatividade negra importa tanto!

Mesmo passando por atos, palavras e gestos de racismo, dos padrões que tive que seguir para ser aceita, para caber na sociedade, nunca havia me alimentado de conteúdos ricos que falassem a respeito e focassem nas pautas raciais e da mulher negra no mercado de trabalho e tampouco questionado da importância da minha representatividade de ser uma referência para outras mulheres negras que buscam seu lugar!

Não somente por ter a ver com o que faço hoje, que é justamente potencializar as mulheres no mundo e levar a importância da equidade de gênero, eu finalmente pude entender o significado da luta de mulheres negras até aqui e o quanto somos potência!

Algumas datas importantes para representatividade negra

No último dia 25 de Julho, celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha, sendo essa uma data símbolo de resistência das mulheres negras. Esse dia foi instituído em 1992 através de um evento denominado “1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana”, e surgiu com o objetivo de dar visibilidade à luta das mulheres negras contra a opressão de gênero, a exploração e o racismo.

No Brasil, a data homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, sendo ela uma líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão no século XVIII.

Mas trazendo essa pauta de luta e resistência das mulheres negras para os dias atuais, sabemos que essa busca pela igualdade de oportunidades e representatividade continua.

A Mulher negra no mercado de trabalho

De acordo com a última atualização do IBGE em 2019, estima-se que os negros representem a maior parte da população brasileira, em torno de 56,2%. Dessa porcentagem, apenas 29% ocupam cargos de liderança.

Infelizmente esse dado cai bruscamente quando falamos das mulheres negras, sendo em torno de somente 3%, onde ganham em média menos do que homens e mulheres brancos exercendo as mesmas posições.

Mas a que deve-se essa desigualdade?

Bem, para a mulher negra é um tanto quanto desafiador ingressar no mercado de trabalho, ter oportunidades de estudo e qualificações para fazer parte daquele meio.Mandy Bynum Mc Laughlin, criadora do Índice de Equidade Racial, diz:

“Para as mulheres negras, há um senso de responsabilidade de ser a voz de todos, porque elas são uma representação minoritária, que, quando somada às emoções sentidas por simplesmente estar em uma sala majoritária masculina e/ou branca e se manter firme, é muito para enfrentar”.

Além disso, quando a mulher negra consegue uma posição de destaque em uma empresa, o mérito dela é sempre questionado: ou ela está ali porque se envolveu amorosamente com alguém, ou até mesmo porque está cumprindo um “sistema de cotas da empresa”.

Nunca por seu próprio mérito, potencial e capacidade! Então é como se ela tivesse sempre que colocar à prova seu valor, suas habilidades e que tem potencial para estar ali tanto quanto uma mulher branca!

Vieses inconscientes na construção dessa desigualdade

Indo um pouco mais fundo na questão da representatividade da mulher negra no mercado de trabalho, devido aos próprios vieses que estão enraizados na sociedade, muitas vezes as pessoas ainda não “reconhecem” o direito das pessoas negras estarem em determinados locais.

Ainda são vistas como serviçais, tais quais como os tempos da escravidão. Se fizermos um exercício simples de imaginar pessoas a cargos de liderança e alta liderança, automaticamente imaginam pessoas brancas.

Há pouco tempo vimos um caso parecido em um programa de TV onde a apresentadora branca pediu à convidada, uma cozinheira que havia feito um prato e estava sentada, se levantando para servi-lo a todos que estavam ali presentes no palco, mesmo essa apresentadora estando com a bandeja do alimento em mãos.

Para tentar contornar a situação, o apresentador parceiro, um homem negro, se ofereceu para servir. Isso é fruto direto da influência da escravidão no país, período que durou mais de três séculos e que foi determinante para formar a maneira dos brasileiros se relacionarem entre si, enraizando preconceitos e atitudes de discriminação na sociedade.

Eu mesma já passei por situação similar, onde estava em um evento como organizadora, e em um determinado momento do Welcome Coffee estava atrás do balcão conversando com a minha líder, e uma mulher branca de classe alta se dirigiu a mim pedindo que eu servisse leite quente, “me confundiu com a copeira”, mesmo eu não estando devidamente uniformizada ou algo do tipo!

Mas Camila, porquê essa representatividade negra importa tanto?

Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade em que a cor da pele é quem “dita as regras”, desde os ambientes onde temos o direito de estar, até como seremos tratados! Conforme eu iniciei falando para vocês, que eu me lembre, sempre me reconheci preta, mas nunca parei pra pensar sobre quando isso aconteceu!

E isso também me faz refletir sobre o quanto me senti diferente ao me deparar com alguma boneca, ou até mesmo algum comercial onde raramente via uma pessoa negra! Sempre amei brincar de boneca (inclusive brinquei de Barbie até os 15 anos), mas de fato fui ter uma Barbie negra somente aos 15!

Outro dia fui almoçar em um Shopping próximo à Avenida Paulista, no horário de “pico” do almoço, Praça de Alimentação lotada (sem exageros, deveria ter mais de 1.000 pessoas ali fácil!), e ao sentar em um balcão pra comer, fui observando ao meu redor quantas pessoas negras eu iria ver por ali e onde elas estavam localizadas.

Enxerguei a mim mesma ali comendo e outra mulher negra há uns 2 metros de mim. O restante das pessoas negras que vi eram as copeiras que estavam recolhendo as bandejas e limpando os pratos e também os seguranças que estavam ali em pé observando.

No último dia 27 de Julho, fui a um evento em São Paulo onde tive o prazer de assistir a uma palestra da maravilhosa Djamila Ribeiro, assistindo e observando as falas dela a todo momento, meu sentimento e pensamentos estavam a mil.

Refletindo o quão especial e único era aquele momento, ver uma mulher negra ali, falando para tantas outras mulheres negras, mas também mulheres e homens brancos. E do quanto as palavras dela tinham poder, do quanto ela representava cada uma de nós ali!

É aí que a representatividade atua, mostra que não existe uma única tonalidade de pele, único formato de corpo, uma única textura de cabelo. Ela chega para dizer que somos diferentes e devemos celebrar essas diferenças.

Então podemos justamente concluir que essa representatividade negra — que surge com os movimentos negros não só no Brasil, mas no mundo — busca romper com essa imagem negativa frequentemente direcionada à população não-branca, com os estereótipos que insistem em sustentar situações como normais:

“Ah, é normal que na escola do meu filho não tenha nenhuma professora negra, nenhum colega negro”.

A representatividade negra vem para combater os discursos que invisibilizam, segregam e marginalizam pessoas apenas por conta da cor, permitindo, assim, que os negros também possam se enxergar em diferentes lugares, ocupando-os e sendo bem-sucedidos. Ela vem, portanto, para promover a igualdade racial.

A importância de movimentos direcionados a pessoas negras

Partindo desse princípio, reforço a importância de movimentos como o Black Lives Matter, que é um movimento ativista internacional e tem como objetivo criar campanhas de combate à violência direcionada à pessoas negras.

Ele se iniciou em 2013 com o uso da #BlackLiveMatters nas redes sociais após a absolvição do homem branco George Zimmerman na morte a tiros no adolescente afro-americano Trayvon Martin.

Aproveito então, para também listar ações importantes e impactantes que podem contribuir com essa representatividade

  • Abra espaço que estamos aqui! 

Dê cada vez mais espaço, vez e voz às mulheres negras, para reforçar o potencial delas em todos os momentos e não somente no dia 25 de Julho ou no dia 20 de Novembro!

  • Famoso exercício do pescoço

Olhe ao redor da empresa para ver a quantidade de representatividade racial que se nota e em quais posições essas pessoas se encontram.

  • Engaje mulheres e homens brancos

É gerar uma “provocação”, envolver as mulheres e homens brancos nas empresas para que também entendam seus privilégios e o papel deles enquanto companheiros nesse processo de combate às desigualdades, vieses inconscientes e de desenvolvimento das pessoas negras.

  • Oportunidades iguais

É oferecer oportunidades de desenvolvimento e reconhecimento dentro das empresas,onde elas sintam que ali têm um local seguro para crescer, evoluir e se transformar, encorajando à outras mulheres e sendo referência, tanto quanto se dá para homens e mulheres brancos!

  • Mulheres pretas em ação! 

Por fim, mulheres pretas, SE APOIEM, SE UNAM E SE ACOLHAM! Deem as mãos, unam forças umas às outras para se potencializar e energizar entre si, para que através dessa união, possam ir em busca de igualdade e representatividade!

E para finalizar e complementar essa “provocação” e as dicas preciosas, gosto sempre de deixar um recado, uma mensagem, então aproveito para trazer um material muito especial que gravei no ano passado de uma maneira mais descontraída mas não menos importante, justamente para falar um pouco mais sobre a importância dessa representatividade, e sobre o que não fazer no mês da Consciência Negra! 

Espero que curtam tanto quanto eu curti gravar. Vídeo

Sobre a autora: Camila Dantas é uma mulher preta de 35 anos, formada em Turismo pela Universidade Anhanguera de São Paulo. Possui vasta experiência de mais de 10 anos na área Comercial/Atendimento ao cliente e,  há quase um ano e meio, atua na área de Vendas na empresa Mulheres no Comando com foco nos atendimentos B2B para D&I, Equidade de Gênero e Interseccionalidade, estando cada vez mais engajada nessas temáticas e nas pautas raciais.

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