mulheres em tecnologia

Compartilhe

Mulheres na tecnologia: uma nova oportunidade

Preciso esclarecer desde já algo importante sobre a minha própria trajetória: estou há mais de 20 anos no mercado de trabalho, lidando direta ou indiretamente com tecnologia, porém sou uma profissional de negócios e, portanto, não tenho formação na área de tecnologia. Fiz algumas transições de carreira em minha trajetória, mas sempre tive a tecnologia e a inovação como mote.

Neste artigo vou trabalhar o tema de mulheres na tecnologia seguindo uma perspectiva de três pilares de valores: tecnologia, inovação e cultura.

Meus aprendizados durante a carreira

Aprendi durante a minha trajetória profissional, que tecnologia é meio e não fim e desta forma todas as profissões em alguma medida estarão relacionadas com a tecnologia num futuro bem próximo. Atualmente, vemos professores em plataformas digitais, médicos usando tecnologia robótica e advogados se valendo de ciência de dados e inteligência artificial para serem assertivos em processos jurídicos.

Aprendi muito sobre tecnologia no meio em que trabalhava com colegas de trabalho de formação técnica: desenvolvedores, programadores, profissionais de produto, agilistas, profissionais da qualidade da informação, testers. Dentre as profissionais de TI incríveis que tive o privilégio de trabalhar, destaco a Marta Duarte Teixeira e Carolina Castanheiras e o período que trabalhamos juntas na Geofusion.

Aprendi a importância de levar para todos os meus momentos profissionais uma cultura analítica de dados. Não me imagino embasando qualquer momento crítico profissional sem ter muitos dados estruturados para trazer insights assertivos. 

Aprendi também sobre metodologias disruptivas e processos ágeis que levam a uma cultura de inovação. Aprendi sobre design thinking, sobre funil de inovação, sobre processos ágeis de gestão, sempre estruturados. Mas nada disso fazia sentido se eu não estivesse numa cultura colaborativa e diversa.

Na minha trajetória profissional também trabalhei em empresas ligadas diretamente a tecnologia como no caso da Linx ou da Cortex. E nestas empresas, destaco mulheres incríveis de áreas como vendas e customer success que precisam entender muito da tecnologia para cumprir suas metas e objetivos, não necessariamente programando, mas entendendo as dores de negócio que a tecnologia em questão pretende resolver.

A inovação vem de mulheres no mercado de tech

No mercado da tecnologia, a inovação vem também de mulheres. A história pode comprovar. Margaret Heafield Hamilton é uma cientista da computação, engenheira de software e empresária estadunidense e desenvolveu o programa de voo usado no projeto Apollo 11, a primeira missão tripulada à Lua. Sua bibliografia foi recentemente escrita em um artigo do Projeto Enigma da UFRGS. Poderia citar tantas outras cientistas brilhantes ligadas a tecnologia que foram disruptivas.

Em aulas relacionadas à inovação, gosto muito de usar o vídeo da garota indiana de 14 anos Remya Jose, que inventou uma máquina de lavar roupas que funciona a pedaladas e sem necessidade de energia elétrica, feita de materiais reciclados foi premiada em seu país pela inovação. Ela vinha de uma família humilde onde tradicionalmente as mulheres lavavam as roupas nos rios. Ou seja, a inovação precisa estar relacionada a uma dor ou um problema real e nem sempre precisa se relacionar a pesquisas milionárias de multinacionais.

Recentemente também temos exemplos de lideranças femininas que trouxeram inovação em startups e empresas ligadas a tecnologia. Porém , de acordo com o Female Founders Report 2021 e matéria publicada no portal Terra, somente 4,7% das empresas brasileiras são lideradas por mulheres.

Mas vemos infelizmente que não existe um equilíbrio neste cenário e na história da startup Mulheres no Comando, Jessica Paraguaçu contou em vários momentos e encontros sobre as dificuldades enfrentadas em rodadas de investimento onde líderes mulheres são cobradas muito além de seus pares.

Das mulheres brilhantes que foram mapeadas no artigo citado acima considerando 15 lideranças femininas de destaque no ecossistema de inovação, destaco a Tati Pimenta, CEO e fundadora da Vittude, além da Juliana Vital, hoje Global Chief Revenue Officer na Nubimetrics e que tive a honra de trabalhar na Cortex.

Quando me refiro à inovação, vejo que é uma pauta positiva na maioria das empresas atualmente. Porém o conceito de um ambiente inovador significa estar aberto a possibilidade de errar, mesmo que seja para corrigir o erro rapidamente. 

As mulheres que estão lendo este artigo, sabem muito bem que isso não é comum na grande maioria de empresas, que a cobrança é desigual entre homens e mulheres, infelizmente. Além disso, nos é cobrado em grande parte das vezes um cenário que não permite falhas.

De acordo com o Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental de 2021, mulheres empreendedoras acessam menos programas de aceleração, recebem menos investimentos e seus negócios têm menos chance de atravessar o período em que as companhias iniciantes ainda não ganharam tração. Em 2021, menos de 5% das startups foram fundadas somente por mulheres, conforme artigo da Distrito.

Isso acontece em todos os setores econômicos no que se refere a empreendedorismo feminino: embora sejamos 52% da população e lideremos 45% dos lares brasileiros, somente 32% das empresas tem pelo menos uma mulher no quadro societário e apenas 18% das empresas têm só mulheres como sócias. É o que diz o estudo da Cortex sobre o tema, publicado na Valor Investe. 

Me entristece saber que tecnologia é o terceiro setor mais desigual, atrás somente de construção (segundo lugar) e concessionária de serviços (primeiro em desigualdade).

Mas o mercado está mudando e pontes são construídas para um cenário profissional mais inclusivo na tecnologia. Ainda bem! Vou citar aqui algumas iniciativas como o programa de mentoria Girls Power, oferecido pela Microsoft, irá contemplar 175 mulheres com a certificação PL-900: Microsoft Power Platform Fundamentals.

Posso citar outros tantos grupos e iniciativas inclusivas que buscam tornar este mercado menos desigual. Uma organização que sigo e admiro é a Women in Tech. Ela é mundialmente reconhecida por trabalhar pautas de inclusão, diversidade e equidade em carreiras de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. A missão desta organização é capacitar até 2030 mais de 5 milhões de meninas e mulheres em tecnologia e conta com grandes parcerias globais como a AWS.

A empresa  Ernst & Young, multinacional de serviços e consultoria de TI, tem um programa que já chegou a duas mil pessoas impactadas, encorajando meninas e mulheres a entrar, permanecer e prosperar na TI. Segundo artigo de 2021,  Denise Marconi foi finalista vencedora no prêmio executivo de TI em 2021 como sócia de tecnologia da EY.

 No artigo encontramos explicações sobre a ação She Belongs New Generation, que já alcançou mais de 600 meninas de 15 a 18 anos em uma série de rodas de conversa, que foram realizadas em parceria com ONGs e outras entidades que compartilham do mesmo propósito, como a Inspiring Girls.

Fora do Brasil estas iniciativas são ainda mais presentes, e a que mais me chamou a atenção é a Girls Who Code, que tem a missão de diminuir a diferença de gênero na tecnologia através de mais de 8.500 iniciativas com meninas a partir da terceira série do ensino fundamental, impactando mais de 500 mil meninas, mulheres e indivíduos não binários e tem como parceiras empresas como Walmart, AT&T, Accenture, Dell, dentre outras.

Além de iniciativas estruturadas, a educação em  tecnologia hoje está acessível em muitas plataformas acessíveis desde o Youtube, onde eu destaco canais como o do MIT OpenCourseWare, ou em sites de educação como na Udemy, onde é possível encontrar cursos de toda a natureza, de Python a SQL, de Tableau a machine learning.

Ainda que existam cursos em português, recomendo que as interessadas também invistam num curso de inglês nem que seja instrumental e que tenha bastante disciplina para a auto-aprendizagem. Blogs e fóruns de usuários de grandes fabricantes de software também são boas fontes de conhecimento, desde que usado com algum senso crítico.

Como professora em escolas de negócio, entendo que a educação é o caminho para alcançarmos um mercado de trabalho mais diverso e acessível na área tecnológica.

Podemos buscar o conhecimento em qualquer momento e em qualquer formato. Em redes de streaming como o Spotify, recomendo seguir e ouvir podcasts como o Agile Girls, que entrou na linha lista recente para ouvir no trânsito sobre temas como Kanban, agilidade, transição de carreira, dentre outros. 

Neste momento, sugiro fortemente que aproveite para fazer networking e que engaje em grupos em algumas redes sociais com outras que estão passando pelo mesmo desafio. No Instagram recomendo a página Tech Ladies Brasil formada por mulheres empreendedoras apaixonadas por tecnologia. Mas tenho certeza que encontrará outras tantas redes relacionadas ao seu objetivo profissional e que você se identifique.

Por fim, recomendo avaliar se a cultura da empresa onde está atualmente permite que mulheres se desenvolvam, transitem  e cresçam em áreas como a de tecnologia. Você tem exemplo de lideranças femininas? Pode pedir mentoria para ajudar no seu desenvolvimento? Se as respostas acima foram negativas, avalie o mercado a seu redor, pois cada vez mais vejo exemplos próximos de empresas caminhando nesta direção de inclusão. 

Espero que a minha trajetória, as histórias que compartilhei e por fim as dicas sirvam para inspirar e mover quem já está na área ou se interessa pelo tema.  

Strategic Planning and Market Intellingence | Growth Intelligence speaker and professor | Market and Sales Intelligence Consultant | Mentoring | Angel Investor.

Atualmente Head of Strategy @

Patricia Romancini é Head de Planejamento Estratégico na Printi, empresa do grupo Cimpress, mentora do grupo Mulheres no Comando e professora de escola de negócios como FGV e Live University.

Trabalhou entre 2002 e 2012 na Geofusion com foco em varejo, desenvolvendo estudos de análise de site, planejamento de mercados, impacto de novas aberturas de lojas na rede existente, dentre outras análises semelhantes.  

Entre 2012 e 2015: gerente de Inteligência de Mercado da Burger King do Brasil, estruturando a área, desenvolvendo o planejamento plurianual da empresa e  a  metodologia para análise de novos sites para expansão.

Entre 2016 a 2018 estruturou a área de Inteligência de Mercado na Linx, empresa líder de software para o varejo. 

Entre 2018 e 2022 trabalhou na Cortex-Intelligence como Diretora da área de Implantação de projetos de inteligência de mercado e Diretora de Planejamento Estratégico de Inteligência de Vendas.

Artigos Relacionados